O DONO

O DONO
Eu sou o Fernando Antonio Moura Fialho, o FAMFialho - no twitter: @famfialho

Seguidores

Pesquisar este blog

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Respeito e Educação

Tinha 4 anos de idade quando me  enviaram ao Jardim de Infância (hoje inicia-se  mais cedo nesse ofício!), para a minha boa alfabetização.  Como todos, ou melhor, como a maioria, chorei muito no primeiro dia, depois acostumei.
O Externato era dirigido por uma figura memorável.  D. Carla era  uma senhora muito grande (para nós, então pobres crianças, ela era enorme!), guardando uma excêntrica proporcionalidade entre gordura e altura.  Seus cabelos eram angelicalmente loiros e encaracolados.  Usava óculos, que tinham lentes tipo fundo de garrafa, com armação de tartaruga (ainda existe isso?). 
O Externato era em Copacabana; e a proximidade com a praia não parecia animar D. Carla a mudar a coloração de sua pele extremamente clara!
Nos era muito doce, mesmo assim, quando ela estava por perto, tínhamos um comportamento de causar inveja ao mais rigoroso dos comandantes de exército(naquela época, mais que nunca!).  É que, ao mesmo tempo que seus atos nos diziam dedicação e amor à função de educadora, sua aparência, acompanhada daqueles óculos, nos diziam: “Ordinário, sentido!” “Ordinário, Marche!”.
O mais curioso a respeito de D. Carla, não era sua aparência ou sua repulsa a praia, mas sim o que diziam às línguas, não sei se más ou se boas!  Dizia-se muito que ela tinha ganhado o colégio ou, pelo menos, sua administração de seu famoso companheiro, conhecido jornalista, depois Deputado Federal pelo Rio e hoje, finalmente, defunto!
Seu concubinato era um fato que, para a época, deveria ser considerado, e era mesmo tendo em vista o nome do falecido, um escândalo!
Mesmo com escândalo e tudo (pelo menos do que tenho notícia), nunca, em momento algum, nós, ou nossas mães, ou nossos pais machistas,  faltamos com o respeito que deveria ser dispensado à D. Carla!
Numa manhã chuvosa (quando Cavalo de Aço, ou seria Escalada, bem, não importa, o que importa é que Tarcísio Meira era o galã mais galã das Telenovelas brasileiras e os respectivos roteiros, coloriam o P&B das tevês com beijos longos e apaixonados), surgiu-me, como a serpente surgiu à Eva (guardadas as devidas proporções!), o desejo do curioso: nos corredores do Externato, ao passar por Cleisse, coleguinha de turma, precipitada e inadvertidamente, lasquei aquele ósculo na pobre menina que, da pele bem morena que tinha, foi ao branco.  Eu, na minha inocência pueril,  perguntei: - “Gostou?” Em resposta, tomei um sonoro tapa dela (depois nos tornamos grandes amigos e sem namorar! Assim ficamos até a época da faculdade, quando então, perdemos totalmente o contato) e D. Carla, que vinha passando naquele inoportuno momento, paradoxalmente, me catou pela orelha esquerda e, carinhosamente, me levou ao seu gabinete!
Aprendi, ouvindo o “sabão” de D. Carla, que beijo roubado não é pecado, nem é ruim, mas que há momento e lugar para tudo na vida.  Só faltou ela me dizer que, no caso do beijo roubado, também é necessário o “clima”.  Bem, ela não diria: “clima”; se dissesse algo seria: “atmosfera”.
Duro mesmo foi enfrentar D. Amália e S. Raimundo, horas depois, em casa!
Além do momento certo, para o total sucesso de um roubo de beijo, foi através de D. Carla que aprendi a levantar-me, em sinal de respeito e cumprimento, sempre que o professor entrava na sala de aula. E até hoje me levanto, para quem quer que seja, quando estou sentado e alguém vem até mim! D. Carla também me ensinou a  usar os tratamentos Senhor e Senhora, ao me dirigir às gentes estranhas!
Não considero que tal aprendizado, por si só, tenha importância absoluta na minha vida, mas na verdade esses rituais, sem saudosismo, eram a face de uma educação mais crível, de maior conteúdo e de mais respeito!
Talvez, sem nos darmos conta, primeiro com a “tia” e depois com o “tio”(machistas que somos, primeiro testamos nossa falta de respeito com a mulher e, alguns anos mais tarde,  aplicamos aos homens), banalizamos nossa educação e abrimos mão do respeito e da disciplina que não deveria ter saído dos bancos escolares.
Nossas crianças, não parecem mais cultas que nós éramos, apesar de possuírem mais recursos para saberem mais a respeito do mundo em seu redor.
Nossos jovens adolescentes, mais sem limites que as crianças, quando não estão em atividade ilícita, andam pela frente dos computadores e sabem tudo sobre a internet, mas será que argüidos de supetão saberiam dizer quem foi Eça de Queiroz? E o que ele representa? Ou vão precisar antes dar uma “surfada” na web?
É bem verdade que “navegar é preciso”, mas não era bem isso que Pessoa queria dizer!

Nenhum comentário: